quarta-feira, 2 de setembro de 2015

HAICAI

Poema de origem japonesa que descende de uma linhagem antiga, o waka (poema á moda do país de wa(Japão), do século VII d. C.
 
Os primeiros wakas foram reunidos no Man Yôshu (antologia de dez mil folhas), a maior e mais antiga coletânia de poesia japonesa, iniciada no ano de 759. Foi elaborada entre os séculos VI e VII,  reune  vinte volumes e cerca de 4.500 poemas.
 
A forma poética era composto por 5- 7- 5- 7-7 fonemas (misohitomogi) ou poema de 31 sílabas.
 
Períodos
 Heian  (794-1185) - Tanka
O tanka passa a ser criado por duas pessoas: uma encarregada da primeira estrofe (hokku), outra pela seguinte (wakitu);
 
 Kamekura (1186-1339)
O pequeno poema torna-se entretenimento entre os cortesãos da aristocracia feudal.
 
Entre os anos 913 e 1439 imperadores japoneses encomendaram 21 antologias aos poetas do perído, cada uma com cerca de 20 volumes,  que ficou conhecida como coletânea de poemas waka.
 
Com o tempo passa a ligar-se a outras estrofes da mesma medida ficando conhecida como renga e depois renku.
 
INÍCIO DO SÉCULO XIII
Começo da forma conhecida como Haikai.

Século XV
Yamasaki Sokan (1465-1553) - é dele os primeiros escritos.
 
Século XVI e XVII
Surgem duas escolas de renga haikai:
Teimon-ha escola  de Matsunaga Teikofu (1571-1653), que busca sofisticar a linguagem e composição elaborada;
Danrimfú ou templo - enfatizava o coloquialismo e em alguns casos expressões vulgares e humor , repercutindo a temática das coisas imples e do cotidiano. 
 
Edo (1603-1867) - século XVII
O terceto (três versos) atinge o apogeu quando Matsuo Bashô (1644-1694) filho de samurai, renuncia à classe social para tornar-se monge andarilho. Ele eleva o haicai à condição de Kadô (caminho da poesia) introduzindo a visão do mundo Zen em sua criação. Herança do Confucionismo e do Budismo de estirpe Mahaya na - crença de todas as coisas da natureza.Ele  revelará a beleza existente nas coisas humildes, imperfeitas, transitórias e não convencionais. Sua escola fica conhecida por Shomôn ou "escola de Bashô".
 
Bashô teve mais de 3 mil discípulos.  Destaques: Busson (1716-1784), Kobayashi Issa (1763-1827) e Massoka Shiki (1867-1902);
Busson - conceitual e racional;
Issa - confessional e emotivo.
 
Ah, como é bonita!
Pela porta esburacada
surge a Via Láctea.
                    Issa
 
Nesta noite
ninguém pode deitar-se:
lua cheia.
                Bashô
 
De tantos instantes
Para mim lembrança
As flores de cerejeira
               Bashô
 
No atalho de montanha
Sorrindo
Uma violeta
                       Bashô
 
O grito do faisão-
Que saudade imensa
De meu pai e minha mãe
                           Bashô
 
 
Meiji (1867-1902) -  abertura do Japão para o Ocidente .
Massoka Shiki preserva a integridade da poesia japonesa e do haicai como forma original e local e cria o neologismo haiku para nomear o poema de dezessete sílabas e estabelece regras rígidas para sua composição.
Regras principais:
poema deve ser breve;
Dezessete fonemas ou sílabas;
Conter refer~encia à estação do ano;
Local da criação;
Rico em onomatopéias;
Afirmava que seu maior mestre continuava sendo a natureza.
 
Ao deixar o portão
do templo Zen,
uma noite estrelada.
                  Shiki
Solidão
Após a queima de fogos,
uma estrela cadente.
                  Shiki



HAICAI NO BRASIL

1906 - Monteiro Lobato estréia o haicai no Brasil ao publicar na Gazeta o artigo " A poesia Japonesa" em que traduz seis haikais.
O Haicai  influenciou a geração de escritores e poetas de 1922 que rompeu com a sintaxe e inaugurou o modernismo no país inspirados pela oralidade e  coloquialismo  das narrativas de Lobato.

1919 - Afrãnio Peixoto, historiador, poeta e crítico literário fixou a forma do haicai à brasileira: três versos com cinco, sete e cinco - totalizando dezessete sílabas métricas.

1920 -  modernistas rompem com a sintaxe e a métrica tradicional, inaugurando o verso livre, impondo a linguagem coloquial na poesia da mesma maneira que o movimento da escola Danrin no Japão do século XVII.

Era da Revolução Industrial
Os poetas descem do Monte Parnaso para vivenciar o bulicio das ruas.
O haicai reduz-se a um terceto breve e bem humorado cujo tema revela a vida urbana e burguesa.

1922 - Haicai é praticado e discutido por poetas da Semana de Arte  Moderna.
No  n. 2 da Revista Klaxon o poeta japonês Nico Horigoutchi comenta as transformações promovidas na poesia japonesa a partir de 1895 (produzidas por Shiki) no artigo "A poesia japonesa contemporânea".

No discurso sobre tendências modernistas   na revista Estética "A Escrava que não é Isaura",  Mário de Andrade reconhece a influência de gêneros orientais.

Luís Aranha é o primeiro brasileiro que  concebe os primeiros haicais inspirado em poema de Yamazaki Sokán (1465-1532), embora não tenha sido reconhecido na época. Seu livro Cocktails será publicado somente em 1986.

Pardas gotas de mel
voando em torno de uma rosa
Abelhas
              Luís Aranha (17/05/1901-29/06/1987)

Oswald de Andrade
Adotou o haicai em Pau Brasil. Voltou ao terceto em Primeiro caderno de poesia do aluno Oswald de Andrade. Mal interpretado seus haicais recebe o epíteto de "poema-piada".

1933 - Newpuku Sato (1898-1979) comenta e difunde o haiku poroduzido no idioma japonês no Brasil.


Drummond de Andrade
Publica na revista de variedades Para Todos seus primeiros haicais.

Manuel Bandeira
Produziu um único haicai no livro Lira dos cinquent'anos. Traduziu poemas de Bashô e do espanhol Ramón Jiménez.  Atentou para o assunto no tratado "Versificação em lingua portuguesa" para a Enciclopédia Delta Larouse.

Na metade dos anos 30 Guilherme de Almeida torna público o intercãmbio cultural .
Usou três versos de dezessete sílabas métricas: 5-7-5. Rimas ligando o primeiro e o terceiro verso e ua rima interna no segundo verso. Tornou esse tipo conhecido em artigos no Estado de São Paulo e no livro Poesia Vária (1947)  e depois em Anjo de sal. Vários poetas passaram a usar o haicai de Guilherme de Almeida. Também foi ele quem atribuiu a Magma, livro de estréia de Guimarães Rosa a premiação máxima.

Siqueira Júnior dedicou seu primeiro livro ao poemeto  no país m 1933.
Foi o primeiro a trocar informações com os imigrantes sobre haiku.

Guimarães Rosa destacou em Magma nove tercetos enfeixados sob o título de haicais ignorando as regras de composição. Não voltou a publicar o gênero.

1948 - Mário Quintana expõe em tres versos a posição do negro e classes subalternas no país. É considerado um dos melhores haicaistas brasileiro.

1956 - Millor Fernandes - desconstrói o haicai na revista O Cruzeiro ao radicalizaro humor dos primeiros modernistas. Popularizou o haicai.

1950 -1960
Grupo de jovens poetas paulistas passam a discutir o haicai: Haroldo de Campos, Augusto de Campos e Décio Pignatari na  reivista Invenção abrindo espaço para os haicais experimentais de José Paulo Paes, Pedro Xisto e Paulo Leminski que atualiza o haicai por meio de poemos líricos.

1982 - Encontro Brasileiro de Haicai.

2008 - Vigésima edição do evento.

2013 - Grêmio Haicai Ipê inspirado por Masuda Goga para discutir e traduzir autores e poemas clássicos. Influenciaram o surgimento de agremiações no país.
http://www.kakinet.com/caqui/ipe.shtml

http://www.kakinet.com/concurso/


Século XXI
Os haikaistas brasileiros pouco se dedicam a ética e estética do Zen- budismo. Exceção: Alice Ruiz, Helena Kolody, Olga Savary, Paulo Leminski e Pedro Xisto.

Perseguem a brevidade,  a simplicidade e o humor.
Hoje o haicai é consolidado na literatura brasileira como uma das formas poéticas mais populares  no país.

Alguns haicaistas  brasileiros

Canção matinal
campinas. Vacas turinas
cheiro de curral
                   Abel Pereira (baiano de Ilhéus)


Um grão bem miúdo...
um nada à margem da estrada...
um nada que é tudo.
                   Afrânio Peixoto



Sem saudade de você
sem saudade de mim
o passado passou enfim.
                          Alice Ruiz

Por uma só fresta
entra toda a vida
que o sol enfresta.
              Alice Ruiz

Lembra aquele beijo
corpo, alma e mente?
Pois eu esqueci completamente.
                    Alice Ruiz



ULTRAREALISMO

A vida
limita
a arte
           Carlos Vogt


Libélulas? Qual!
Flores de cerejeira
Ao vento de abril
                Erico Verissimo



OS TRISTES

Em seus caramujos,
os tristes sonham silêncios
que ausência os habita?
                           Helena Kolody


LAR

Espaço que separa
o wolkswagen
da televisão.
              José Paulo Paes

Exilado na multidão
sou silêncio e segredo, e venho
quando os outros vão.
                    Ledo Ivo


Na poça da rua
o vira-lata
lambe a lua
           Millor  Fernandes


Ao luar
como reconhecer a flor da cerejeira?
Deixando-nos guiar pelo seu perfume
                                         Monteiro Lobato


ROTA

Que arda em nós
Tudo quanto arde
o que nos tarde a tarde.
                     Olga Savary

Que distância
não choro
porque meus olhos ficam feios.
                                Oswald de Andrade



Jardim de minha amiga
todo mundo feliz
até a formiga.
              Paulo Leminsky

Sol ( venho cantá-lo)
se entremostre à pedra branca
sob o velho carvalho
                        Pedro Xisto


ESCOMBROS
Casa demolida.
Foi bela. Pensar que nela
houve tanta vida...
                  Waldomiro  Siqueira Júnior


TURISMO SENTIMENTAL
Viajei toda a ásia
ao alisar o dorso
da minha gata angorá...
                     Guimarães Rosa


Fonte:
O livro dos Hai-kais. Trad. Olga Svaary. 2. ed. Aliança cultural Brasil-Japão
Boa companhia - Haicai. Org. seleção e introdução Rodolfo Witzig Gutilla. São paulo: Cia das
Letras, 2009.
ROSA, Guimarães. Magma.

Para saber mais sobre o haicai assista esta reportagem
https://www.youtube.com/watch?v=5-24eF56FFM
              

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Paulo Bomfim

Paulo Bomfim
Poeta brasileiro, membro da Academia Paulista de Letras e Príncipe dos Poetas Brasileiros.
Seu primeiro livro de poemas, Antônio Triste, lançado em 1946, com ilustrações de Tarsila do Amaral, recebeu o Prêmio Olavo Bilac, concedido pela Academia Brasileira de Letras, em 1947.
Foi presidente do Conselho Estadual de Cultura de São Paulo.

Obras literárias

  • Antônio Triste, 1946
  • Transfiguração, 1951
  • Relógio de Sol, 1952
  • Cantiga de Desencontro,
  • Poema do Silêncio,
  • Sinfonia Branca, 1954
  • Armorial, 1956
  • Quinze Anos de Poesia e Poema da Descoberta, 1958
  • Sonetos e O Colecionador de Minutos, 1959
  • Ramo de Rumos, 1961;
  • Antologia Poética, 1962;
  • Sonetos da Vida e da Morte, 1963.
  • Tempo Reverso, 1964;
  • Canções, 1966;
  • Calendário, 1968;
  • Poemas Escolhidos, 1974;
  • Praia de Sonetos, 1981;
  • Sonetos do Caminho, 1983;
  • Súdito da Noite, 1992.
  • Aquele menino (2000).
  • O Caminhoneiro (2000).
  • Tecido de lembranças (2004).
  • Janeiros de meu São Paulo (2006)
  • O Colecionador de minutos (2006).

Fonte: MENEZES, Raimundo de. Dicionário literário brasileiro. 2ª ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1978.

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