O Negro na literatura Brasileira
Século
XVII – versos satíricos de Gregório de Matos.
Literatura sobre o negro (Negro como objeto);
Negro ou descendente é
personagem com aspectos ligados à vivência do negro na realidade
histórico-cultural do Brasil (assunto ou tema);
Presença mais significativa no século XIX;
Visão estereotipada até a
atualidade.
Estereótipos
1)Escravo nobre vence por
força do branqueamento embora à custa de sacrifício e
humilhação.
Ex.: A escrava Isaura
(1872) de Bernardo Guimarães e Raimundo de O
mulato (1881). Mulato de olhos azuis de Aloísio de Azevedo. Denúncia do
preconceito; desconhece que a mãe era escrava.
2) Negro como vitima;
3) Exaltação da liberdade
e causa abolicionista;
Perspectiva idealizante do Romantismo
Castro Alves - Navio
Negreiro (destaca a desumanidade que marcava o tráfico de escravos já
abolido. Apela aos heróis do novo mundo Andrada e Colombo.
Ênfase
na vingança (A criança e Bandido Negro).
Luta
individualizada, nunca no problema central (luta pela liberdade) quando
Palmares e outros colombos já existiam.
Não foge a tônica do seu
tempo mas não consegue livrar-se das marcas da cultura escravista.
Indignação sobre o
sofrimento do negro.
Necessidade da nação
livrar-se da escravidão.
Negro coisificado
Campanha sobre a condição
humana.
Liberdade – ideal da
ideologia dominante.
Não dá voz ao negro.
Comporta-se como um
advogado de defesa.
Fagundes Varela – Mauro, o escravo.Valoriza o negro, mas
não consegue afastar da tendência ao branqueamento.
Negro infantilizado,
serviçal e subalterno:
O demônio familiar (Jose de
Alencar)
O cego (Joaquim Manoel de
Macedo)
Permanece o estereótipo associado a animalização na
figura de Bertoleza do romance
O cortiço (1900) de Aloisio
de Azevedo.
Negro como personagem
secundário
O calhambola – de Trajano Galvão de Carvalho. Centra num escravo
orgulhoso, mas resignado.
As vitimas algozes (1873-(1896) – Joaquim Manoel de Macedo. Escravo
demônio tornado fera por força da escravidão.
Mota coqueiro(1877) – José do Patrocinio.
O rei negro – Coelho Neto.
A familia Medeiros (Julia Lopes de Almeida.
De fera a pervertido
O bom crioulo(1885) – de
Adolfo Caminha.
História de
homossexualismo, corajosíssima para época.
A carne(Júlio Ribeiro) segundo o narrador a liberação dos instintos
de Lenita se deve a promiscuidade com os escravos.
Considera a raça
negra inferior:
O presidente negro – Monteiro Lobato.
Instinto Lírico
Juca Mulato (1917) – Menotti Del Picchia.
Atitude vanguardista.
Demonstração de que os
mulatos também sentem.
Negro ou mestiço erotizado ou objeto sexual presente desde Rita
Baiana (O cortiço) e mulato Firmo.
Nega Fulô ( Jorge de Lima).
Poemas da negra (Mário de Andrade)
se suaviza.
Especial destaque nas mulatas de Jorge
Amado.
Contribui para visão
valorizadora da presença do negro na cultura brasileira embora não consiga
escapar das armadilhas do estereótipo.
Jubiabá(1955) – ingênuo e simples Jubiabá.
Infantilizada e
instintiva Gabriela (Gabriela Cravo e
Canela).
Literatura espelho (realismo).
Negro exilado na cultura
brasileira.
Urucungo (1933) Raul Bopp.
Até os anos 60 prevalecia
da visão estereotipada
Paralelo: textos
compromissados com a real dimensão da etnia.
Corpo vivo – Adonias Filho- negro fiel Setembro, símbolo da
antiviolência, responsável pela educação cristã do herói Cajango antes da
preparação deste para a vingança.
O Forte (1965) – negro Olegário. Ele é a memória. Drama humano do
Forte em torno de Salvador e o fundo histórico de salvador em torno de ambos.
Visão integradora
Luanda Beira Behid (1971) – trágica história de amor passada nesses
três espaços geográficos. Destaque: estereótipo da morena sensual na personagem
Luta.
Literatura denúncia
Contos de Edilberto
Coutinho.
Trazem negro injustiçado
e ressentido.
O fim de uma agonia.
O rei nu – mitificação e desmitificação do negro Pelé
"Tem explicação
doutor"? Consciência desesperada do negro jogador de futebol e joguete na
mão dos empresários.
Navio negreiro - novo passageiro
Mulher na jogada contraste entre a negra favelada que ganha fama e
paga caro por isso e a branca privilegiada e nobre.
Um negro vai à forra ( não evita o estereótipo. Personagem negro
Bira, marginal, violento, passional agressivo.
Teatro Auto da compadecida - estranhamento de João do grilo diante da
caracterização do Cristo negro.
O Orfeu negro Vinicius atualiza e carioquiza a tragédia grega ao
transpô-la para a realidade urbana do Rio de Janeiro e a etniza simpaticamente,
destacando a relação entre o negro e a musica brasileira.
Autores contemporâneos
Aspectos da realidade
sociocultural. Década de 1980 obras preocupadas no resgate da figura do negro:
Os tambores de São Luis (1985) – Josué Montello pretende valorizar
a grande saga do negro brasileiro. Exemplo de consciência negra(personagem
negro dividido entre o mundo branco circunstancial e o mundo de sua
ancestralidade e etnia.
Tentativa de atitude revalidadora da
historia do negro
Viva o povo brasileiro (1984) – João Ubaldo Ribeiro
Busca através da arte
literária a caracterização da gente do Brasil na formação do país.
Destaca a luta permanente
pela liberdade.
Discurso do negro em ambiente brasileiro
José Lins do Rego - seus
livros contam histórias de usinas onde o braço negro tem atuação relevante.
Distanciamento
Escritores negros e
mestiços; matéria negra é eventualmente tratada.
Domingos Calda Barbosa
(1740) filho de pai português e mãe africana -
De Viola de lereno.
Gonçalves Dias expressão
da poesia do romantismo. Filho de pai português e mãe cafuza. A escrava(1846) A meditação (1849).
Denunciamento
da situação de opressão; referências sutis.
O horto (1900) . Areta de
Souza (1876-1901) formada em colégio de religiosas francesas
Mario
de Andrade (mulato) 1893-1945. Obra com passagens reveladoras de uma posição
dividida. Meditação do Tietê
referencia a vinculação com a etnia.
Poesias completas. Poemas da negra – exalta a beleza da raça
à luz da relação amorosa valorizadora. O herói Macunaíma nasce preto e vira branco.
Jorge de Lima Serra
da barriga (poema) – contribuição africana às comidas da Bahia da beleza da
mulher negra mesmo na condição de escrava mas associada a imagem destruidora de lar e ladra por força
da sua sensualidade.
Praticas religiosas
Benedito calunga obambá e Batizado
visão simpática mas distanciada e não comprometida com a bandeira da
libertação. Negro como individuo.
Machado de Assis
Uns defendem que o fato
de um mulato ter se tornado o maior dos escritores brasileiros é signifiativo
para a causa da etnia, embora na sua obra não haja nenhuma assunção ideológica
nesse sentido.
Outros criticam a
ausência em seus textos da problemática do negro positiva e vergastam o seu
branqueamento numa atitude racista.
Outros: crítica mordaz da sociedade brasileira de seu
tempo revela um modo de participação que o vincularia a uma certa literatura
denúncia.
Literatura indiferente a
problemática dos negros e descendentes.
Contos de Machado que
envolvem escravos:
O caso da vara - pai contra
mãe, não centralizam na questão étnica mas no problema do egoísmo humano e da
tibieza de caráter.
Negros e mestiços participam como figurantes em historias que refletem
a realidade social retratada:
Crônica (texto de
19/05/1888)
Na poesia visão negativa
associa-se às qualidades do ideal e ao negro os mesmos aspectos dolorosos que
vincula à Africa de origem.
Cruz e Sousa (poeta do simbolismo, negro, filho de escravos
alforriados e educação ganha dos senhores dos seus pais, sofreu a violência do
preconceito de assumir o cargo de Promotor Público em Laguna, deixa entrever
nas obras marcas do conflito.
No ambiente do distanciamento predomina o estereótipo
O
personagem negro ou mestiço - ganha presença ora como elemento perturbador do equilíbrio
familiar ou social ora como negro heróico, ora como negro humanizado amante,
força de trabalho produtivo, vitima sofrida de sua ascendência elemento
integrador da gente brasileira.Zumbi e a saga quilombola não habita destaques
nesse espaço.
Literatura do Negro
Os protagonistas de
romances e poemas são mulatos, a fim de que o autor possa dar-lhes traços
brancos e, deste modo, encaixá-los nos padrões da sensibilidade branca.
Poetização da figura do
negro - configurada nas manifestações literárias do século XIX
Segundo A Candido
conseguiu impor a dignidade humana no negro.
Passou a ser uma via de
saida confortável para o preconceitro presente na realidade brasileira na
medida em que acabou escoando na aceitação do negro e do mestiço do negro
reconhecendo como tal enquanto emocionalmente e socialmente bem comportados,
que, como Isaura, sabem reconhecer o lugar que socialmente lhes foi imposto.
Tal imagem vem se
diluindo na luta pelo afirmamento cultural e devida integração do negro à
sociedade brasileira para além dos estereótipos e das distorções.
Negro como sujeito - atitude compromissada.
Literatura do negro
Luis da Gama (1850-1882) filho de africana com fidalgo branco.
Primeiro a falar em
versos do amor por uma negra. Destacado por estrofes . ("Bodarrada" e "Quem sou eu".
Lima Barreto (1881-1922) - obra vinculada à realidade social urbana
e suburbana do Rio de Janeiro.
Destaque: Clara dos Anjos (1922). História de uma
mulata filha de um carreteiro, iludida, traída, sofrida por causa de sua cor. Texto
denuncia do preconceito. A fala final, impotente diante da angustia impacta
pelo tom desesperançado: "nós não somos nada nesta vida".
Recordações do Isaías Caminha - a declaração também se revela com
realismo carregado de vivencia pessoal.
(1930-1940) - Posicionamento
Engajado
(1960) - Grupos de escritores assumidos
como negros ou descendentes - Continua nos
anos de 1970 e no curso de 1980.
(1990) -
Afirmação cultural da condição negra na realidade brasileira - continua na atualidade embora com menos
repercussão publica.
Inicio do século XXI
Posição
literária relacionada com os movimentos de conscientização dos negros que
marcam preocupação com a causa do negro brasileiro.
Machado de Assis
Uns defendem:1)O fato de um mulato ter se tornado o maior dos escritores brasileiros é significativo para a causa da etnia, embora alguns achem que sua obra não demonstre nenhum aspecto nesse sentido;
2) Outros criticam a ausência em seus textos da problemática do negro positiva;
3) A crítica da sociedade brasileira de seu tempo revela um modo de participação que o vincularia à literatura de denúncia;
4) Literatura indiferente a problemática dos negros e descendentes.
Contos de Machado de Assis que envolvem escravos:
"O caso da vara" - pai contra mãe, não centralizam na questão étnica mas no problema do egoísmo humano e no caráter;
negros e mestiços participam como figurantes em histórias que refletem a realidade social retratada:
"Crônica" (texto de 19/05/1888)
Poesia
Visão negativa associa às qualidades do ideal e ao negro os mesmos aspectos dolorosos que vincula à África de origem;
Luta contra a opressão racial (Jornalzinho O Moleque)- nove poemas e dois textos em prosa comprometidos com a causa abolicionista.
Periódicos especializados
Menelink (1915-1935)
O clarim da alvorada (1924-1937)
1931
Frente Negra Brasileira
Interregno
da ditadura de Getulio
1945
Mundo Novo
Novo Horizonte
Alvorada
Associação
de negros brasileiros
1944
Teatro
experimental do negro
Destaque
: Abdias do Nascimento
1968
Museu de
Arte Negra
1978
Fundação do movimento Unificado contra a
discriminação racial (MNUCAK)
Movimento
Negro Unificado (MNU)
Centro de
cultura e Arte negra (SP)
Oficial
1980 - Fundação palmares
Escritores
negros e descendentes - comprometimento com a etnia
Precursor
Lino Guedes (1897-1951) - O canto do cisne preto (1926)
Urucungo (1936) e Negro preto cor da noite
(1936)
Poesia
irônica com dose de autocomplacência e apelos de afirmação racial bem
comportada.
Fonte: PROENÇA FILHO, Domício. In: "A trajetória do negro na literatura brasileira".